quinta-feira, 21 de junho de 2012

A DINÂMICA DA PALAVRA DIVINA



A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas. Ele falou e toda a terra foi criada, ele ordenou e as coisas todas existiram.Sl 32,2

"Disse Deus (...) e assim se fez", a partir dessas expressões bíblicas a reflexão teológica desenvolveu todo um estudo para entender e nos dar a conhecer, pelo menos em parte, sobre como atua e se manifesta a Palavra divina, expressa em hebraico pelo termo “dabar” (palavra, fala, discurso, coisa, mandamento, ação, evento, história, relato), que justamente conjuga ação e palavra, alternando entre aquilo que é realizado e o relato daquilo que é feito. No contexto profético a Palavra do Senhor “dabar YHWH” ou em grego “lógos kyríou”, significa mais do que palavra falada, assemelhando-se a um acontecimento, ou seja, palavra em ação. Daí que se considera a Palavra do Senhor como Palavra dinâmica e criadora, Palavra que é mandato e instrução eficaz. Palavra operativa que se atualiza na alma e na história humana realizando por obra do Espírito Santo todas as coisas.


Com os estudos da filosofia da linguagem a partir da Idade Moderna chegou-se à compreensão de que a simples palavra humana vai além da mera locução, ou seja, não somente diz algo, mas também expressa quem disse e interpela quem escuta. Assim, quando prestamos atenção às funções da Palavra humana compreendemos melhor e com mais profundidade o alcance da ação da Palavra divina em nossas vidas. De fato, esse é um dos caminhos para se dar a conhecer a Palavra de Deus com uma outra dinâmica de catequese. A Palavra divina, expressa pelo termo “dabar”, tem a dupla função de proclamar as obras de Deus e explicar o mistério destas mesmas obras, muitas delas narradas na bíblia. Pois bem, ao considerar que a simples palavra humana é capaz de causar um impacto no coração daquele que ouve não se torna difícil elevar um pouco o pensamento e tentar dimensionar o quanto não realiza em nós ao nos interpelar a cada celebração litúrgica, a cada Santa Missa a Palavra divina. Ali, naquela ação real e eficaz onde somos constituídos em verdadeiros Templos, em autênticos Lugares teológicos da Palavra do Senhor, somos interpelados. Mais do que chamar a nossa atenção, a Palavra apela ao nosso coração, nos convida, reclama espaço, pede passagem, nos exorta, cria vínculo conosco, nos compromete, reclama uma resposta fruto de uma adesão livre da nossa parte, ou seja, incentiva e ao mesmo tempo espera o nosso “sim”. Sem sombra de dúvida é na liturgia que a Palavra de Deus se faz carne e habita entre nós, já no ambão, no momento da proclamação das leituras e do Evangelho. Nesta hora, que é parte de um todo celebrativo intimamente conectado aos demais “momentos”, sendo assim uma só coisa, Deus atualiza a sua Palavra no nosso hoje e nos faz participantes do seu mistério de Amor; nos diviniza, nos eleva pela graça a participar da sua natureza, da sua intimidade, dos frutos dos seus mistérios e ali opera pouco a pouco a cura da nossa liberdade ferida e sempre tão necessitada de Amor.



Esta Palavra divina é o próprio Jesus, Verbo Eterno do Pai, única Palavra pronunciada da boca de Deus, através da qual e na qual o Senhor pronunciou o nosso nome pra sempre chamando-nos, a nós e a toda a criação, à existência. Esta Palavra entrou na nossa história e se deixou expressar tão humildemente pelos limites da nossa linguagem, pois quis falar a nossa linguagem, para que fossemos testemunhas e transmissores destas mesmas palavras. É ele mesmo que com as Suas próprias palavras, no Evangelho, nos convida a estar com Ele retirados um pouco à parte, para então, servi-Lo.

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